quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bioeletricidade


A energia da biomassa da cana-de-açúcar tem todos os requisitos para complementar a 
hidroeletricidade. Mas, sendo o Brasil um país abastecido sobretudo pela energia gerada pelas águas, e com tantos rios ainda não aproveitados como fonte energética, é de 
se perguntar por que defender a opção por uma fonte complementar. Afinal, as enormes bacias hídricas brasileiras não seriam suficientes? Um estudo coordenado por Nivalde José de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Gesel (Grupo 
de Estudos do Setor Elétrico), demonstra por que a resposta é negativa, e por que a biomassa da 
cana seria complemento fundamental à geração de energia hídrica. 
   
O setor elétrico brasileiro, como se sabe, é abastecido preponderantemente pela geração hídrica. A energia que vem dos rios tem sido responsável por cerca de 90% da carga elétrica no país. 
É uma participação notável, sobretudo quando se leva em conta a irregularidade das chuvas, 
concentradas no verão e início de outono, entre dezembro e abril.
Não se trata de sazonalidade pouco relevante: entre o pico das chuvas, em fevereiro, e o piso, 
em agosto e setembro, há uma redução de dois terços da Energia Natural Afluente, que os especialistas chamam de ENA e que significa o potencial energético dos rios. 
Se dependesse apenas da natureza, teríamos energia elétrica sobrando na estação úmida e apagões durante a seca. É por isso que grandes reservatórios foram construídos. Eles têm o objetivo 
de, ao armazenar a água excedente durante as chuvas, garantir o atendimento da demanda 
de energia na seca, reduzindo o impacto da sazonalidade. Essa energia potencial da água dos 
reservatórios é chamada de Energia Armazenada (EAR).
É esse, em suma, o atual desenho do sistema elétrico brasileiro. Se ele pudesse ser desenvolvido 
indefinidamente, o debate sobre a matriz energética não teria muita urgência. Mas o fato é que 
esse desenho tem restrições de ordem geográfica. Não que o Brasil não tenha potencial hídrico a explorar. Mas a verdade, da qual nem todos se dão conta, é que o perfil do sistema hídrico 
está em transição. A perspectiva é de que a quantidade de energia gerada pelos rios cresça sem 
novos reservatórios de grande porte, o que reduzirá a capacidade de armazenar água e regularizar a geração hídrica.
Se o modelo tem dado certo, por que não manter a diretriz de construção de reservatórios? Por dois motivos. Primeiro, porque a construção de barragens com grandes 
reservatórios passou a sofrer restrições impostas pela legislação ambiental. Segundo, porque o potencial hídrico remanescente se concentra na região Norte, onde predominam rios que cortam planícies, cuja topografia suave é inadequada para a 
construção de reservatórios. O que se prevê para os próximos anos é a construção 
das chamadas usinas a fio d’água, que não têm reservatórios significativos.
Não se trata de um problema a ser enfrentado num futuro remoto. A questão já 
está colocada: a evolução da geração de energia não tem sido acompanhada pelo 
aumento correspondente na capacidade de armazenamento. Em 2000, os reservatórios eram capazes de armazenar mais de seis vezes a energia equivalente a mais de 
seis meses de consumo. Em 2012, estima-se que consigam armazenar apenas quatro 
vezes e meia. E nos anos seguintes, sem novos reservatórios de porte, a capacidade 
de regularizar a geração de energia diminuirá ainda mais.
É por isso que serão cada vez mais necessários recursos alternativos de geração de energia no 
período seco. Essa nova característica do Sistema Elétrico Brasileiro indica a rápida transição 
para um sistema hidrotérmico.
A forma mais simples de efetivar essa transição seria acionar as geradoras termoelétricas nos 
meses secos. O problema é o custo elevado. A maior parte dessas termoelétricas gera uma energia cara e, muitas vezes, a partir de combustíveis fósseis e poluentes. Mais de dois terços delas 
têm um Custo Variável Unitário (CVU) superior a R$ 200/MWh.
A realidade é que essas termoelétricas foram contratadas com expectativa de baixa frequência 
de uso. O custo reconhecidamente elevado é compensado pela baixa utilização, apenas para 
compensar a afluência desfavorável dos rios em anos de seca mais intensa. Mas, se forem acionadas com mais regularidade, para suprir uma deficiência estrutural, acabarão impondo custos 
elevados à sociedade

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